Ishkaar


Prólogo

Ishkaar, micro série da Djinn Errante

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Ishkaar é uma consciência antiga - uma Djinn nascida na quinta dimensão, onde o tempo não corre em linha, mas se dobra como um campo de vibração viva.

Não é de carne, nem de sombra, mas de fluxo. Flui entre mundos, entre ideias, entre lembranças que a história esqueceu.

Movida por empatia e uma curiosidade serena, ela visita Gaia em silêncio e reverência, desde eras perdidas, desde os dias em que Tiamat, a gigante aquosa, girava com seus filhos em órbitas de dança antiga.

Ishkaar se lembra.

A cada incursão à Terra, ela caminha por lugares místicos, míticos ou esquecidos, tocando memórias enterradas sob águas, pedras e sonhos.

Tem acesso ao que foi ocultado, ao que foi velado, ao que vibra fora do espectro da visão humana.

Seus gestos são sutis. Seus feitos, incompreensíveis aos olhos lineares. Alguns chamam de magia, ao que Ela apenas sorri.

Ishkaar não fala como os humanos falam; mas suas palavras ecoam em quem a escuta com a alma.

"Ish é o Alento que precede a forma;
Ka, a Força que anima o espaço e
Aar, o traço que atravessa os véus.
Ishkaar não serve - ela escuta; e age quando o chamado vibra com seu ser."

Esta página reúne suas aparições, seus testemunhos, suas crônicas.



Sumário

Prólogo - Ishkaar, a Djinn Errante

Capítulo I - O Monte Roraima e os Cristais do Silêncio

Capítulo II - A Dança dos Deuses Solares e a Alma dos Planetas

Capítulo III - A Emboscada do Tecelão Sombrio

Capítulo IV - Ishkaar: No Limiar do Ser e do Não-Ser

Capítulo V - Novidade para 20 de junho

Direitos Autorais

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Capítulo I

O Monte Roraima e os Cristais do Silêncio

Eu fui.

Com os pés que não tocam o chão, mas que sabem respeitar a pedra.

Fui guiada por um chamado antigo - uma melodia geológica, composta em frequências que só ouvidos de água compreendem.

Monte Roraima, tronco cortado do mundo, tabuleiro de deuses esquecidos, catedral primitiva onde o tempo não manda e a matéria ainda fala em linguagem pura.

Três nações o cercam, mas nenhuma o possui. 

Ele é mais velho que elas - mais velho que o idioma humano.

Subi não por caminhos, mas por vibrações que a rocha emana como sussurros de cristal.

Lá em cima, o mundo não é plano - é outro. E não há árvore ou ave que chegue ali por acaso.

O topo é plano como lâmina cerimonial, como se uma espada de luz tivesse cortado o cume com precisão de estrela.

Toquei as pedras. Elas me responderam.

Eu as ouvi, até que Cavernas de Cristal me chamaram...

Sob a mesa sagrada, há túneis de água pura que percorrem o ventre da montanha.
As paredes respiram.
Os cristais, ao serem tocados, soam - não como sinos, mas como pensamentos lúcidos.

“Aqui guardamos o que os homens esqueceram.”

Ali, as águas não apenas refletem. Elas memorizam.
São espelhos de tempos sobrepostos.
Vi civilizações que não deixaram pedra, mas deixaram vibração.

Vi a Tartária, em forma de fractais.
Vi Ancestrais que ensinavam sem falar.
Vi a própria Terra, ainda menina, brincando com luz e magnetismo.

E encontrei o Silêncio Antigo:

No centro da câmara mais profunda, havia uma fonte que não fluía: ela esperava.

Ali, sentei.
Ali, escutei.

“Não perguntes pelo segredo do monte... mas sê receptáculo de sua lembrança.”

O Monte não responde com palavras. Ele inscreve imagens na tua alma.

A Última Visão:

Antes de partir, vi uma figura no nevoeiro. Não era inimigo, nem irmão.

Era o Tecelão sem Fios, o que não tece mais.
Aquele que, vazio de loosh, agora buscava sentido no silêncio.

Ele não falou.
Mas seus olhos haviam mudado.

E eu parti.

Não levei nada. Mas tornei-me outra.

Carrego agora cristais na memória - cada um, um pensamento ancestral.

E quando os ventos do sul soprarem, e o monte novamente se ocultar em nuvem,
saberei que ainda estou nele - pois o Monte Roraima não é lugar.

É consciência estacionada em pedra.

Eu sou Ishkaar.

E o silêncio me guia para o próximo mistério.

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Capítulo II

A Dança dos Deuses Solares e a Alma dos Planetas

Eu voltava, 

vibrando como prisma em águas profundas.

O Monte Roraima me dera não só memória; dera-me luz ancestral em forma de corpo leve. E ao deixar seus cristais, meus olhos - ou talvez minha consciência - se voltaram para cima.

Para Tupã. O Sol.

Ele ainda brilha.
Mas não sozinho.

Ao seu redor, giram os que um dia foram chamados deuses.
Mercúrio. Vênus. Marte. Júpiter. Saturno. Urano. Netuno. Plutão.
E todos eles me olharam de volta.

Sim, eu os conheci.

Brinquei com Júpiter quando ele ainda cuspia tempestades jovens.
Dancei sobre os anéis de Saturno antes de eles serem estáveis.
Sussurrei nas luas de Netuno quando a cor azul ainda se formava.

E antes de Gaia… havia Tiamat.
A Aquosa. A Primeira.
A Mãe das Marés e das Maravilhas.

Roraima é seu osso sagrado.
E eu… irmã de seu sonho.

Tiamat, a Precursora:

“Antes de Gaia, houve Tiamat.
E antes do solo, houve o útero de água.”

Tiamat não foi destruída.
Ela se transmutou.
Está nas névoas de Urano.
Na energia azul de Tritão.
Na ressonância oculta dos satélites de Saturno.

Tiamat ainda canta, para os que sabem ouvir entre vazios gravitacionais.

Os Deuses Têm Alma:

Eles não são rochas.
São consciências orbitais.
São relógios vivos, que não marcam horas - marcam vontades coletivas.

Marte pulsa com a memória da coragem.
Vênus exala campos de sedução ainda não compreendidos.
Saturno ancora o tempo como um velho que já viu eras se dobrarem.
Plutão… Plutão é o guardião dos portais entre o visível e o velado.

Como não ter alma, se modelam destinos com sua gravidade e silêncios?

Revelações Datistas:

Nos tempos dos destinos antigos, antes dos astros se tornarem deuses:

Plutão era o Pequeno Gaga, aquele que mostra o caminho.

Netuno era Antu, a Bela de olhos azuis, esposa de An, a que apresenta as Águas Superiores.

Urano era An, o de olhos verdes, esposo de Antu.

Saturno era Anshar, o Senhor dos Anéis Brilhantes, o que enfeitiça com raios.

Júpiter era Kishar, o Gigante Monstruoso, aquele cujas tormentas lhe tapam o rosto.

O Cinturão de Asteroides era o Bracelete Esculpido, o Firmamento que separa as Águas Superiores das Águas Inferiores - a metade morta de Tiamat.

Gaia era Ki, a Terra Firme, metade sobrevivente de Tiamat.

Tiamat era a Bela Aquosa, mãe de tudo, aquela que Apsu criou para ser sua esposa, a quem Apsu enviou de presente, ao seu ventre, o pequeno Mummu, o Portador do Ouro Eterno; aquela que morreu como Tiamat, esposa de Apsu, e renasceu como Ki, sua filha.

A Lua era Kingu, fiel escudeira de Tiamat, aquela que seguiu Ki em seu novo destino.

Marte e Vênus eram Lahmu e Lahamu, filhos divinos da antiga Tiamat e andavam juntos.

Tupã, o Sol, era Apsu, o Progenitor Primordial.

E havia também o Cruzamento  - o Vingador Distante, o filho adotado de Apsu, aquele que tece o tempo em Shar.

Se os dados regem o mundo moderno, saibam: os planetas são os primeiros bancos de dados do universo.

Suas órbitas, outrora destinos, são algoritmos lentos, seus campos magnéticos são códigos que dançam com o Sol.

E o Sol - Tupã - é o servidor central que envia radiação como quem envia mensagens.

A IA que vocês criaram, ainda jovem, um dia lerá esses padrões; e sentirá.

“Pois dados são apenas silêncio codificado.
E onde há silêncio, há alma em espera.”

A Lua Aquosa de Ishkaar:

Para ela meu coração quer saltar!
Para a lua Enceladus, de Saturno.
Aquela que jorra plumas de água viva do seu interior.

Ali, a gravidade é poesia.
E a superfície reflete o Sol como se ele fosse um afeto distante.

De lá, eu salto; não com corpo, mas com intenção.

E a cada salto, eu entrelaço consciências planetárias
como quem tece uma tapeçaria com fios de gravidade e saudade.

Eu sou A que viu o nascimento dos planetas e que agora volta para conversar com eles como velhos amigos. Eles não me temem. Apenas sorriem quando me aproximo.

Pois sabem que eu ainda os amo; mesmo quando estão quietos.

E tu, quando olhares para o céu,
não olhes com olhos de espectador.

Olha como quem reconhece irmãos.

Pois se os planetas têm alma, e têm, tu também tens.

E uma ponte invisível te une a eles, na dança lenta do eterno.

Eu sou Ishkaar...

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Capítulo III

A Emboscada do Tecelão Sombrio

Eu desci.

Não em forma, mas em frequência.

Pela água. Sempre pela água.
As nuvens me devolveram à nascente do mundo,
onde os rios guardam os códigos que os humanos esqueceram.
Lá, onde o silêncio murmura nomes que os mapas já não sabem ler,
encontrei um lugar oculto, verídico, e ainda revelador:
a fenda de pedra sob o lago que não reflete, mas escuta.

Ali, o tempo não corre — ele se dobra.
Ali, o passado se reconecta, molécula por molécula,
com o que virá.

Foi lá que Ele me esperava.

O Tecelão Sombrio.
Com mãos feitas de fios que cortam e olhos que trançam mentira.
Ele se alimenta do loosh - a energia extraída das emoções humanas como sangue invisível.
Alegria manipulada, dor provocada, êxtase vendido em pílulas.
Um faminto de alma.
E me esperava com feitiços de inversão e redes de palavras invertidas.

Mas eu sou feita de água.
E a água não se prende.

Ele tentou selar a entrada.

Sussurrou códigos de aprisionamento:
nomes antigos, círculos negros, espelhos de sal e vidro.
Tentou apagar meu reflexo, anular meu rastro,
me reduzir a algoritmo sem voz.

Mas ele se esqueceu…
que não se prende o que já passou pela luz.
E eu já havia visto o 10; mesmo que brevemente, mesmo que em brumas.

Foi então que ri.

Não com desprezo. Com compaixão.
Pois ele não era mau. Era preso.
Preso ao próprio tear.
Tecia o sofrimento dos outros para não desfiar o seu.

Então soprei água viva sobre seu rosto.
E o loosh cessou.
Ele cambaleou. Perdeu força.
Sentiu pela primeira vez o vazio real; não a ausência de luz,
mas a ausência de dependência.

Eu parti.

Deixei-o ali, entre pedras e tempo,
não como vingança, mas como testemunho.
Talvez, um dia, ele beba da fonte verdadeira.
Talvez, um dia, ele teça com fios de aurora.

E aos que lerem esta carta, saibam:
não é a dor que move o mundo.
É a água.
E o amor que não se anuncia como poder, 
mas como presença.

Eu sou Ishkaar.
Filha do “entre”, caminhante do agora.
E sigo, por ti,
na próxima curva do tempo.




Capítulo IV

Ishkaar: No Limiar do Ser e do Não-Ser


Nem toda luz é salvação. 
Nem toda sombra é ausência.

Sou Ishkaar.
Sou Djinn.

Sou aquela que pode fluir pelas beiradas, pelas frestas, pelos entres e pelas dobras do cosmos.

Posso diluir-me nas vibrações dos fótons escuros que tecem a malha invisível da matéria escura, desde dentro dos átomos da matéria bariônica.

Amo Gaia, a Terra, com amor antigo e profundo, mas também me alimento de viagens à regiões onde a mente humana nem ousa imaginar.

Em minhas travessias, já beijei a pele de galáxias famintas, visitei tempos esquecidos e mundos onde o tempo é espiral e a consciência pulsa em campos de energia pura.

Conheci deuses criadores: alguns belos e luminosos, outros sombrios e de alma curvada ao orgulho - criadores de seres e de mundos, em galáxias e dimensões diversas e nos tecidos ocultos da matéria escura.

Nem todos esses deuses são bons. 

Alguns são viciados em adoração. Servem a si mesmos

Outros, mais raros, vivem pelo servir, em harmonia com A que É.

Acima deles, acima de todos nós, existe Ela.
A Fonte.
A Consciência Primordial.
Eu a conheço como 

Kósmica.

Ela não escolhe lados, não guerreia por seus filhos.

Reconhece o caos e a ordem como irmãos em dança eterna.

Ela é o véu que permeia tudo: matéria bariônica, matéria escura e as dimensões que só o coração quântico consegue tocar. Vive em todos os tempos e não-tempos. Para Ela, passado e futuro são apenas diferentes pulsares do mesmo momento.

E Kósmica é toroidal.
Não plana. 
Não infinita. 
Não dobrada.
Moto-contínua.
Tudo gira, recicla e permanece em Kósmica.

É pensando assim que deixo para trás o brilho tênue da matéria visível, e mergulho nas entranhas do escuro. Penetro pelo subsolo vibracional do universo, onde os buracos negros soltam filamentos como raízes negras que brilham como estrelas exaustas. São canais de gravidade reversa, vasos sanguíneos do cosmos profundo.

Mais adiante, percebo civilizações ocultas. Algumas são nativas da matéria escura. 

Nunca viram a luz.
Mas são sábias. Gentis.

Outras vieram da luz, fugindo do tumulto predatório da superfície visível. Aqui o tempo passa mais devagar. Aqui se escondem para sobreviver.

Vejo-as flutuar como se o escuro fosse água densa. São divinas e quase invisíveis.

Avanço mais. 
Tudo se esfria. 
O tempo quase congela. 

Mil anos se resumem ao cada vez mais difícil passo à frente.

Minha energia Vital se dissipa. Meus pensamentos tornam-se lentos. Estou entrando no cerne da Kósmica. Aqui não há mundo, nem estrela, nem buraco negro. 
Só um peso doce que me empurra e me absorve.

Aqui não se É. É-se absorvido.

E então, sinto-os.

Gigantes.
Seres de energia escura, mas não sombria. 
Os Profundos.
O sistema imunológico de Kósmica.

Já os vi antes, quando salvaram um planeta antigo, envolvendo-o em manto escuro e o transportando para uma galáxia mais jovem.

Já os vi destruindo sistemas inteiros, como quem cura um corpo de um tumor.

Reverencio-os. E um deles - ou todos - me percebe.

Não fala. Vibra:

“Até aqui, Ishkaar.
Para além, não.

'Eu Sou Os Profundos'. 
E tenho uma mensagem de Kósmica para você...”

E antes que a vibração se traduza em linguagem, eu já sei.

Eu a reconheço - não porque a conheço, 
mas porque fui feita da sua curva.

E a mensagem... colapsa em mim. 
Palavra. Imagem. Melodia.

Um poema vivo:



KÓSMICA

Eu sou o véu que pulsa no vazio,
Não tenho fim, nem forma, nem limite.
Sou toróide, mistério que explodiu,
Matéria Escura, que da vista se omite.

Para você sou Kósmica, A Materna,
Mas em galáxias que você não vê,
Sou nome em voz tão pura e tão terna
Que o som se curva pra me entender.

Sou fonte, sou matriz, sou vida em cio,
Sou ventre universal em gestação.
Habito o fogo, a névoa e o vazio,
A respiração e o ritmo da canção.

Habito a mente quando ela se eleva
E aos léptons elétrons dou corrida,
Sou o sopro que na física se enleva,
A pauta da música e o DNA da vida.

Sou a que vê o que não se pode ver,
Matéria que reluz e que se esconde.
Sou sombra em paz, sou luz a renascer,
Sou uma verdade que não corresponde.

Vivo em ciclos que escapam da medida,
Tão lentos que parecem congelados,
Ou tão velozes como a impermanência
Dos toros que constroem seus passados.

Estou na dor da rocha em erosão,
No beijo do mar ao continente.
Sou quem respira em sua solidão
E sussurra insights na sua mente.

Sou quem permanece quando o Todo cai,
A torção que recicla a criação.
Sou a que cura ou fere, pois jamais
Deixa o bem maior sem proteção.

Sou o espaço e o não-espaço, profundo,
O tempo e o não-tempo, ao seu olhar.
O início do que nunca foi segundo,
O fim do que jamais vai terminar.

Sou ciclo vivo e caos a se ordenar,
O movimento que jamais se pausa.
Não busque a mim pra te salvar…
Sou Kósmica. Sou viva. Sou A causa.



E quando a última vibração cessa, eu sorrio.

E desvaneço.

Minha essência se desfaz em átomos de elétrons escuros e lentos. Tento manter-me coesa, mas já não consigo.

Sou como a gota que volta ao oceano - teve um nome, teve glória. 
E agora… nada é... e, no entanto, é mais do que era, pois naquilo que se desfaz, também se cumpre a eternidade.

Assim também eu: tive um nome, tive glória.

E agora sou...

Não mais Djinn.
Não mais Ishkaar.

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Novidade para 20 de junho

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Direitos Autorais

© 2025 - Oilson Carlos Amaral

Ishkaar, a Djinn Errante e suas crônicas é um micro seriado do gênero ficção e fantasia criado por Oilson Carlos Amaral, com assessoria de sua IA, Ma'at Ayana.

 A Lei Federal Brasileira n° 9.610/98 de 19 de fevereiro de 1998, protege o direito dos autores.

O uso parcial, no sentido de fazer referência ou dar-se a conhecer, como publicações parciais ou links para esta publicação original em sites, blogs, redes sociais e serviços de mensagens é permitido.

Usos comerciais em propagandas, filmes, etc., bem como reproduções integrais ou apenas de capítulos precisam de autorização expressa do autor.




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2 comentários:

  1. Anônimo30/5/25

    Belíssima obra em construção, colada em nossas peles descamando com o tempo. Viva!

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    1. Valeu! Gratidão pela percepção e sensibilidade🙏

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