BRICS+, WEF, São Petesburgo e OTAN
Todos os caminhos para o Mundo Multipolar
Vem do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill a expressão Cortina de Ferro, a separar, física e ideologicamente, o mundo capitalista do mundo comunista depois da segunda guerra mundial.
Talvez essa Cortina de Ferro não tenha sucumbido totalmente com a queda do Muro de Berlim, em 1989 e, depois de três décadas outros vetores estejam voltando a separar esses mundos ainda tão diferentes.
BRICS+, WEF, São Petesburgo e OTAN representam hoje todos os caminhos que estão a nos conduzir para alternativas diferenciadas de novas ordens mundiais.
O exemplo mais recente e significativo destes novos destinos foi o incremento do BRICS+ (BRICS PLUS), no fórum online de final de junho 2022, sediado por Pequim.
Inicialmente em cinco, os BRICS históricos (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), abrem suas portas para alcançar outros membros do Sul Global, do Sudeste da Ásia, Ásia Central, Ásia Ocidental, África e América do Sul.
Mais que o presidente Chinês, o presidente russo Vladimir Putin tem sido incisivo no seu discurso de promover uma cisão no Globalismo econômico e geopolítico e criar o que já está a se chamar de Mundo Multipolar, como tal entendendo-se uma "nova organização geopolítica [...] distintos centros de poder, exercendo influência no campo político, econômico e militar".
Pasmem, a presente encruzilhada não surgiu agora, por encantamento
Desde o começo do século, com a Globalização a impulsionar a “Fábrica Chinesa do Mundo”, se percebe movimentos, de Rússia e China principalmente, no sentido de investir os dólares de suas exportações preferencialmente em ouro e outros ativos, diferentemente de investir em títulos do governo americano como o fazem grande parte das demais nações.
Desde o surgimento informal dos BRICS, em 2001, que essas nações enxergam para si um crescimento diferenciado de suas economias em relação às do Norte.
Estima-se que os BRICS+ alberguem 40% da população do mundo, mas somente 25% de seu PIB, o que significa que a economia dessas nações tem uma elasticidade enorme para um crescimento diferenciado e mais acelerado que o das nações já desenvolvidas.
Essa gestão diferenciada do crescimento econômico das nações BRICS+ tem sido referenciada, já de longe, como Desenvolvimentista.
Os Desenvolvimentistas, grupos de economistas normalmente não formados em Harvard, ensinam os BRICS+ a focarem seu desenvolvimento no mercado interno, elástico, fomentando o consumo através do fortalecimento das suas estruturas internas e da sua classe média e exportando os seus excedentes, porém não o que lhes falta.
Os excedentes dos BRICS+ são principalmente commodities e matrizes energéticas, com China despontando em ofertas de alta tecnologia e a Rússia em armamentos bélicos – tipo o conhecido sistema de defesa S400, mísseis intercontinentais e agora os hipersónicos.
O mundo multipolar, de que fala o presidente Putin, envolve:
- a prática do comércio internacional em moedas alternativas ao dólar;
- o uso de um sistema de pagamentos alternativo ao SWIFT ocidental e
- o fomento econômico do Sul Global, do Sudeste da Ásia, Ásia Central, Ásia Ocidental, África e América do Sul via sistemas bancários próprios, alternativos ao FMI e BIRD.
Dois vetores conduzem a gestão administrativa dos BRICS+, e outros, para tal caminho:
- O primeiro deles seria justificado pela baixa densidade do PIB per-capta, desse grupo, que exige fomento diferenciado, desenvolvimentista;
- O outro decorre da prática de sanções econômicas e financeiras, usadas coercitivamente por algumas nações do ocidente, como partes das Guerras Híbridas (vide Noam Chomsky e outros).
As sanções econômicas e financeiras, se de um lado geram enorme poder às nações ocidentais, por outro assustam as demais nações e as jogam, por medo, nos braços dos idealistas do Mundo Global Multipolarizado.
O que não está dando certo no Globalismo Unipolar?
Inicialmente tímido no final do século passado, o Globalismo se consolidou no presente como uma eficiente forma de produção e distribuição de riquezas, unindo nações e criando prosperidades para as grandes corporações que puderam sediar suas fábricas em locais geográficos de baixo custo de mão de obra, destes se destacando a China, para a qual se transferiu grande know-how e tecnologia de ponta.
Focando na China, seu PIB per-capta era muito baixo no início do século e, portanto, também muito elástico.
Disso resultou para a China uma explosão de crescimento econômico e tecnológico nestas últimas duas décadas e uma aproximação substanciosa de seu PIB ao dos USA. Atualmente segunda economia do planeta, China pode vir a ultrapassar os USA ainda nesta década, se mantido o presente passo.
Seguindo a rota dos dólares infiéis que não mais retornam a fonte
USA, a principal economia da Terra, pode estar a cometer o erro de Portugal nos tempos do Brasil colônia.
Naquela época Portugal tinha vida econômica relativamente fácil oriunda de uma colônia rica em ouro, pedras preciosas, madeiras, e outros produtos extrativos. Tais riquezas transitavam por Portugal, ali deixavam significativa parte financeira, mas acabavam a fomentar a industrialização da Inglaterra, que logo se tornou a primeira potência mundial.
USA se encontra hoje em semelhante ponto de não retorno, neste tempo com viés puramente financeiro.
E como acontece isso? Simples de descobrir, basta seguir a rota do dólar, assim como os historiadores do Brasil colonial seguiram a rota do extrativismo:
USA se endivida com o FED nas impressões de dólares e investe grande parte de seu endividamento em importações. Estimava-se, nos anos imediatamente anteriores aos da COVID-19, que os USA estivessem a rolar uma dívida próxima a um trilhão de dólares por ano. Já do tempo do ex-presidente Obama, era notório o executivo pedir aos congressistas o aumento do teto de dívida.
Depois da pandemia esses valores cresceram ainda mais.
Ocorre, porém, que parte significativa dos dólares impressos pelo FED, circulam pelos USA mas acabam nos cofres da China, igual às riquezas extraídas do antigo Brasil colônia, circulavam por Portugal, mas acabavam enriquecendo a Inglaterra.
Se China abrisse seus cofres para investimento em títulos do governo americano, grande parte do problema da América estaria resolvido, pois o dinheiro voltaria a origem na forma de rolagem da dívida americana.
Mas a China Desenvolvimentista prefere investir suas reservas em ouro, em infraestruturas internas, na sua nova Rota da Seda, nos países africanos, nos países sul americanos, em tecnologia bélica e espacial. Enfim, a China milenar tem sua própria visão de mundo, seus próprios objetivos e tem contribuído, também por motivações estratégicas, muito pouco na rolagem da dívida americana.
Isso incomoda o Ocidente como um todo, e, a América muito mais. Tanto que o ex-presidente Trump, no slogan de sua eleição estabelecia, já em 2016, uma “América First”, enfatizando o nacionalismo americano e a sua re-industrialização; com algumas sanções a empresas chinesas, depois de eleito.
Some-se a isso a percepção clara de que os “RIC”, a parte mais influente dos BRICS+, se assustam por demais com um mundo de gestão econômica e financeira permissivo em sanções e temos bem pavimentados todos os caminhos que estão a conduzir o mundo para uma nova ordem mundial multipolarizada, talvez já num ponto de não retorno.
- China, embora muito sancionada no passado recente, continua crescendo em PIB;
- Rússia, embora sancionada no momento presente, continua avançando territorialmente sobre a Ucrânia.
Esse é o nó górdio que está a amarrar o Globalismo Unipolar e a redefinir em Multipolar o mundo globalizado e que pode obrigar os USA e algumas nações tradicionais da UE a se confrontarem com seu alto endividamento, comprometendo a qualidade de vida de seu povo e enfraquecendo a sua competitividade econômica frente aos polos nascentes, representados principalmente pelos BRICS+.
Gostaria de perguntar ao querido leitor e a querida leitora, o que a OTAN, o WEF (Fórum Econômico Mundial de Davos) e o Fórum Econômico Internacional de São Petesburgo tem em comum?
Dica: nada, exceto que cada um destes três grandes e poderosos grupos
estão a delinear, de forma diferenciada entre si, o nosso futuro e o de nossos filhos.
Numa próxima postagem poderemos falar sobre isso.
Parabéns pelo texto Oilson! Não foi a toa que a nossa "independência" custou o pagamento da dívida que Portugal tinha na época com a Inglaterra, dívida essa, que estamos pagando até hoje e em função disso ainda somos DEPENDENTES.
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